quarta-feira, 9 de abril de 2014

O fim de uma era no Barcelona?


Hoje, o Atlético de Madri venceu o Barcelona e se classificou para a semifinal da Liga dos Campeões. A vitória por um gol foi inquestionável e poderia ter sido por 4 a 0, tamanha a opulência da equipe madrilenha, mesmo tendo uma posse de bola de apenas 36%. Os méritos do Atlético de Madri, encarnação da figura de Davi neste duelo, são muitos e quem viu o Cholo Simeone jogar sabe de onde emanam estas virtudes dos “colchoneros”.

Louvar os méritos do Atlético de Madri não impede, no entanto,  de pensar nos erros do Barcelona. O ciclo vitorioso do clube catalão com Guardiola parece estar no limite. Não se trata de decretar o seu fim, mas certamente estamos observando a curva inferior deste ciclo. Quem acompanhou o Barcelona nos últimos anos viu um futebol espetacular e deve agradecer por isso. Mas manter-se sempre no topo é uma missão árdua que requer uma reinvenção constante do que parece perfeito.

Os adversários aprenderam aos poucos a marcar as principais armas do time, por mais abundantes que sejam. E muitas vezes nos últimos anos, quando verdadeiros ferrolhos defensivos pareciam frear o ímpeto barcelonista, a individualidade fazia a diferença. Por outro lado, nos bastidores da política por trás do esporte a guerra é mais suja que dentro do campo e o resultado se viu nos recentes episódios envolvendo a obscura contratação do Neymar e a punição imposta pela FIFA na semana passada, que impede o clube de negociar jogadores por um ano.

Posse de bola “excessiva”?

Apesar destes fatores que poderíamos chamar de externos, o principal motivo para o declínio do Barça é oriundo da sua própria incompetência para administrar o sucesso. Logo na contratação de Tata Martino todo o debate sobre o estilo de jogo do Barcelona residia na “excessiva” posse de bola. Havia toda uma crítica em torno desta e a resposta a este debate foi o mais equivocado possível. A posse de bola jamais é excessiva. É melhor ter a posse de bola do que não tê-la, quando se sabe o que fazer com ela. Em geral as equipes com menos recursos optam por não ter a bola e investir na eficiência dos contra-ataques. O problema do Barcelona jamais foi o excesso de posse de bola e sim a falta de objetividade em alguns momentos, especialmente na curta era Tito Vilanova. Quando o Tata Martino assumiu, o time preferiu em vários jogos diminuir a posse de bola, abdicando da sua principal e melhor característica, sem, no entanto, resolver o problema da objetividade. Ou seja, abdicou da sua melhor virtude sem sanar um dos seus maiores problemas.

O ataque é a melhor “defesa”?

Muitas vezes, sim, esta máxima faz sentido. Porém quando as equipes aprenderam a jogar contra o seu time e armam impenetráveis ferrolhos defensivos e letais contragolpes, a solidez na retaguarda passa a ser fundamental. Especialmente quando baseado em uma tradição a equipe se recusa a dar chutões para frente. A defesa do Barcelona no jogo de hoje, improvisada com o meia Mascherano e o jovem Bartra, respaldada pelo inseguro José Pinto, cansou de dar sustos na torcida entregando a bola para o adversário por relutar em dar um chutão. Além disso, perdia praticamente todas as disputas com os atacantes do Atlético. Isto tem sido a tônica da defesa catalã, extremamente vulnerável e com poucas opções. Puyol e Pique constantemente machucados não têm substitutos à altura. O Barcelona contratou o Neymar e, na esteira da sua tradição ofensiva, continua em busca de atacantes. Esqueceu-se, porém, deste importante setor.

Quem tem Messi e Neymar não precisa de mais nada?

É bem verdade que a genialidade decide muitas vezes os jogos e isto não pode ser desconsiderado no calor de uma derrota como a de hoje. Porém a contratação do Neymar talvez tenha apenas reforçado uma mentalidade que já se mostrou vulnerável no ano passado quando Messi se contundiu no final da Liga dos Campeões. A ausência de Messi desestruturou a equipe. E a solução encontrada não foi fortalecer o coletivo, mas sim apostar em outra estrela. Muitas vezes no futebol, o individual prevalece, mas o time de Simeone mostrou hoje que o coletivo bem ajustado pode ser um caminho ainda mais seguro para a vitória, lembremos que o a equipe jogou sem Diego Costa nem Arda Turan.

O futuro não parece muito promissor para o Barça, mesmo que ganhe a liga espanhola. Parece que se reinventar  passará por fortalecer o coletivo e especialmente investir em uma defesa mais sólida. Veremos...

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