Hoje, o Atlético de Madri venceu o Barcelona e se classificou
para a semifinal da Liga dos Campeões. A vitória por um gol foi inquestionável e
poderia ter sido por 4 a 0, tamanha a opulência da equipe madrilenha, mesmo
tendo uma posse de bola de apenas 36%. Os méritos do Atlético de Madri,
encarnação da figura de Davi neste duelo, são muitos e quem viu o Cholo Simeone
jogar sabe de onde emanam estas virtudes dos “colchoneros”.
Louvar os méritos do Atlético de Madri não impede, no
entanto, de pensar nos erros do
Barcelona. O ciclo vitorioso do clube catalão com Guardiola parece estar no
limite. Não se trata de decretar o seu fim, mas certamente estamos observando a
curva inferior deste ciclo. Quem acompanhou o Barcelona nos últimos anos viu um
futebol espetacular e deve agradecer por isso. Mas manter-se sempre no topo é
uma missão árdua que requer uma reinvenção constante do que parece perfeito.
Os adversários aprenderam aos poucos a marcar as principais armas
do time, por mais abundantes que sejam. E muitas vezes nos últimos anos, quando
verdadeiros ferrolhos defensivos pareciam frear o ímpeto barcelonista, a
individualidade fazia a diferença. Por outro lado, nos bastidores da política
por trás do esporte a guerra é mais suja que dentro do campo e o resultado se
viu nos recentes episódios envolvendo a obscura contratação do Neymar e a punição
imposta pela FIFA na semana passada, que impede o clube de negociar jogadores
por um ano.
Posse de bola “excessiva”?
Apesar destes fatores que poderíamos chamar de externos, o
principal motivo para o declínio do Barça é oriundo da sua própria incompetência
para administrar o sucesso. Logo na contratação de Tata Martino todo o debate
sobre o estilo de jogo do Barcelona residia na “excessiva” posse de bola. Havia
toda uma crítica em torno desta e a resposta a este debate foi o mais
equivocado possível. A posse de bola jamais é excessiva. É melhor ter a posse
de bola do que não tê-la, quando se sabe o que fazer com ela. Em geral as
equipes com menos recursos optam por não ter a bola e investir na eficiência
dos contra-ataques. O problema do Barcelona jamais foi o excesso de posse de
bola e sim a falta de objetividade em alguns momentos, especialmente na curta era
Tito Vilanova. Quando o Tata Martino assumiu, o time preferiu em vários jogos
diminuir a posse de bola, abdicando da sua principal e melhor característica,
sem, no entanto, resolver o problema da objetividade. Ou seja, abdicou da sua
melhor virtude sem sanar um dos seus maiores problemas.
O ataque é a melhor “defesa”?
Muitas vezes, sim, esta máxima faz sentido. Porém quando as
equipes aprenderam a jogar contra o seu time e armam impenetráveis ferrolhos
defensivos e letais contragolpes, a solidez na retaguarda passa a ser
fundamental. Especialmente quando baseado em uma tradição a equipe se recusa a
dar chutões para frente. A defesa do Barcelona no jogo de hoje, improvisada com
o meia Mascherano e o jovem Bartra, respaldada pelo inseguro José Pinto, cansou
de dar sustos na torcida entregando a bola para o adversário por relutar em dar
um chutão. Além disso, perdia praticamente todas as disputas com os atacantes
do Atlético. Isto tem sido a tônica da defesa catalã, extremamente vulnerável e
com poucas opções. Puyol e Pique constantemente machucados não têm substitutos
à altura. O Barcelona contratou o Neymar e, na esteira da sua tradição ofensiva,
continua em busca de atacantes. Esqueceu-se, porém, deste importante setor.
Quem tem Messi e Neymar não precisa de mais nada?
É bem verdade que a genialidade decide muitas vezes os jogos
e isto não pode ser desconsiderado no calor de uma derrota como a de hoje.
Porém a contratação do Neymar talvez tenha apenas reforçado uma mentalidade que
já se mostrou vulnerável no ano passado quando Messi se contundiu no final da
Liga dos Campeões. A ausência de Messi desestruturou a equipe. E a solução
encontrada não foi fortalecer o coletivo, mas sim apostar em outra estrela.
Muitas vezes no futebol, o individual prevalece, mas o time de Simeone mostrou
hoje que o coletivo bem ajustado pode ser um caminho ainda mais seguro para a
vitória, lembremos que o a equipe jogou sem Diego Costa nem Arda Turan.
O futuro não parece muito promissor para o Barça, mesmo que
ganhe a liga espanhola. Parece que se reinventar passará por fortalecer o coletivo e
especialmente investir em uma defesa mais sólida. Veremos...
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