Um especialista em rendimento esportivo, cujo nome infelizmente
não recordo, comentou recentemente que o futebol é o único esporte que não se
adaptou às mudanças fisiológicas dos atletas ao longo do século. Embora o
preparo físico seja muito superior e a estatura e complexão tenham mudado, o campo
preservou as suas dimensões e o número de jogadores se manteve. Como resultado,
vemos um futebol com muito mais trombadas, correria e com menos tempo para
pensar e criar jogadas. Esta é uma das razões, na minha opinião, do escassez da
de meias armadores, função que parecia ter um dono iminente anos atrás nos
tempos gloriosos do Ganso.
Mas a consequência tática mais importante reside
provavelmente na forma de jogar das equipes que vem se mostrando mais
bem-sucedidas na atualidade. Quase todas as equipes buscam estabelecer-se em
campo na marcação e explorar os contra-ataques para vencer. O Real Madri e o
Atlético de Madri chegaram à final da Liga dos Campeões jogando nesse estilo.
Neste início de Copa, a seleção sensação, Holanda, jogou assim contra a Espanha
e o resultado foi acima do esperado, um impiedoso massacre, similar ao que o
Bayern de Munique impôs ao Barcelona no ano passado e ao que o Real Madri impôs
ao Bayern de Munique agora de Guardiola neste ano. Ficar mais tempo com a bola
não parece mais ser a melhor opção.
Outra confirmação desta hipótese foi o jogo da Holanda
contra a Austrália hoje. Esperava-se, a prevalecer a lógica, que a Holanda
aplicasse uma sonora goleada na seleção com a pior posição no ranking da FIFA
presente na Copa, após ter massacrado a número um do mesmo ranking. Não foi o
que aconteceu. A Holanda neste jogo precisou abandonar a posição de franco
atirador e tomar a iniciativa do jogo. Não conseguiu. A Austrália foi melhor
boa parte do jogo e poderia ter vencido. O Chile mais tarde corroboraria mais
uma vez a hipótese jogando da mesma forma contra a Espanha. É a vitória do
contra-ataque.
Talvez, os anos gloriosos da Espanha e do Barcelona, os
quais parecem estar bem mais relacionados do que pareciam, tenham sido um
último suspiro de um futebol de domínio da bola, de fazer questão de ficar com
a bola e criar as jogadas de gol penetrando os mais fechados ferrolhos
defensivos. Mas como afirmou o especialista em rendimento esportivo, cujo nome
infelizmente não recordo, é uma árdua tarefa manter a bola e criar no atual
cenário do futebol, missão que pôde ser orquestrada por Xavi e Iniesta durante
alguns anos. Após o fiasco da Fúria nesta Copa, não acho que o triunfo espanhol
em 2010 tenha sido um mero acidente como muitos estão tentando enxergar. Foi a
vitória anacrônica de uma forma de jogar “obsoleta”. Acredito que desta vez, no
entanto, o triunfo virá no contra-ataque.