quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A derrota do Atlético Mineiro e a urgência do bom senso


Embora tenha soado a surpresa, a vitória do Raja Casablanca sobre o galo talvez tenha sido mais emblemática do que uma simples zebra. A derrota do campeão sul-americano coroa um ano deplorável do futebol brasileiro, cujo principal campeonato foi, para a maioria dos times, uma corrida desenfreada para fugir da série B e não rumo a metas mais nobres. Até quase o final do campeonato, mais da metade dos times se esforçava herculanamente para cair e quando, por fim, foram definidas no campo as quatro equipes que mais competência tiveram para tanto, tudo mudou graças à obscura intervenção do tribunal desportivo. Ainda como cereja do bolo, testemunhamos o lamentável episódio da briga generalizada na Arena Joinville. As cenas de torcedores pisoteando a cabeça de um ser humano caído, diante dos suplicantes e inúteis gritos dos jogadores para que os bárbaros voltassem à razão, se é que algum dia a conheceram, completaram o desfecho mais eloquente sobre a organização do futebol nacional. Deixando de lado os aspectos esportivos da derrota do Atlético Mineiro, a saber, a atitude medrosa do time diante do campeão marroquino (!), o grotesco “erro” de arbitragem ao marcar o pênalti decisivo, a falta de ética profissional do Marcos Rocha, entre outros, é o capítulo perfeito para a trama que este ano pré-copa nos reservou.

Em uma retrospectiva do ano futebolístico, qual seria a porcentagem que destinaríamos a conquistas e qual porcentagem seria reservada a jogadores de braços cruzados, torcedores de olhos inchados (de chorar ou de apanhar), e advogados nos braços do povo, celebrando espantosas vitórias jurídicas? Nascido na Argentina, criado no Brasil e neto de italianos, tenho o futebol em cada célula do meu sangue, é a paixão mais inexplicável da minha vida, que resiste a todos os ataques da racionalidade, os quais apontam insistentemente para a falta de lisura que afeta um esporte que movimenta tantos bilhões (de corações, reais, dólares, euros, etc.). Resiste a anos de havelanges, teixeiras, marins, grondonas, berluscones, blatters, euricos, STJD. Resiste às inúmeras denúncias de manipulação de resultados.

Mas a pressão da imoralidade, ou moralidade do capital, é grande e é quase inevitável incluir na minha lista de promessas de fim de ano não mais assistir aos jogos do campeonato brasileiro no próximo ano. Sei que tal resolução não resistirá e ruirá ao ouvir o primeiro caloroso grito de gol ecoando na vizinhança. Mas como toda paixão, ela precisa ser alimentada, para não arrefecer. O movimento Bom Senso FC trouxe novamente certo brilho aos olhos já baços de tantas pataquadas. Mais que bom senso, defende-se o bom gosto, pois assistir aos jogos de futebol no Brasil, ricos em caneladas, cotoveladas, pixotadas, tem sido uma missão bastante inglória. Espero como torcedor que, a despeito da resistência de entidades poderosas como clubes e algumas emissoras, o bom senso triunfe, e o “futebol se oriente, pois, assim dessa maneira, a paixão não aguenta”.