quarta-feira, 18 de junho de 2014

A era do contra-ataque


Um especialista em rendimento esportivo, cujo nome infelizmente não recordo, comentou recentemente que o futebol é o único esporte que não se adaptou às mudanças fisiológicas dos atletas ao longo do século. Embora o preparo físico seja muito superior e a estatura e complexão tenham mudado, o campo preservou as suas dimensões e o número de jogadores se manteve. Como resultado, vemos um futebol com muito mais trombadas, correria e com menos tempo para pensar e criar jogadas. Esta é uma das razões, na minha opinião, do escassez da de meias armadores, função que parecia ter um dono iminente anos atrás nos tempos gloriosos do Ganso.

Mas a consequência tática mais importante reside provavelmente na forma de jogar das equipes que vem se mostrando mais bem-sucedidas na atualidade. Quase todas as equipes buscam estabelecer-se em campo na marcação e explorar os contra-ataques para vencer. O Real Madri e o Atlético de Madri chegaram à final da Liga dos Campeões jogando nesse estilo. Neste início de Copa, a seleção sensação, Holanda, jogou assim contra a Espanha e o resultado foi acima do esperado, um impiedoso massacre, similar ao que o Bayern de Munique impôs ao Barcelona no ano passado e ao que o Real Madri impôs ao Bayern de Munique agora de Guardiola neste ano. Ficar mais tempo com a bola não parece mais ser a melhor opção.

Outra confirmação desta hipótese foi o jogo da Holanda contra a Austrália hoje. Esperava-se, a prevalecer a lógica, que a Holanda aplicasse uma sonora goleada na seleção com a pior posição no ranking da FIFA presente na Copa, após ter massacrado a número um do mesmo ranking. Não foi o que aconteceu. A Holanda neste jogo precisou abandonar a posição de franco atirador e tomar a iniciativa do jogo. Não conseguiu. A Austrália foi melhor boa parte do jogo e poderia ter vencido. O Chile mais tarde corroboraria mais uma vez a hipótese jogando da mesma forma contra a Espanha. É a vitória do contra-ataque.

Talvez, os anos gloriosos da Espanha e do Barcelona, os quais parecem estar bem mais relacionados do que pareciam, tenham sido um último suspiro de um futebol de domínio da bola, de fazer questão de ficar com a bola e criar as jogadas de gol penetrando os mais fechados ferrolhos defensivos. Mas como afirmou o especialista em rendimento esportivo, cujo nome infelizmente não recordo, é uma árdua tarefa manter a bola e criar no atual cenário do futebol, missão que pôde ser orquestrada por Xavi e Iniesta durante alguns anos. Após o fiasco da Fúria nesta Copa, não acho que o triunfo espanhol em 2010 tenha sido um mero acidente como muitos estão tentando enxergar. Foi a vitória anacrônica de uma forma de jogar “obsoleta”. Acredito que desta vez, no entanto, o triunfo virá no contra-ataque.

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